09 December 2011

Empresas não esperam mais pelos governos.

As mudanças climáticas são o melhor exemplo global para se vivenciar a interação entre os três setores da sociedade: 1º Governos (democráticos ou não), 2º Empresas, e 3º Sociedade Civil Organizada.

A relação entre eles é uma relação de: empurra 3º com 1º; se entende e se desentende 3º com 2º; e aguarda 2º com 1º. É essa relação de espera, das empresas pelas decisões dos governos, que mudou completamente.

Numa volta pelos corredores e arredores da CoP17 é possível perceber a nova postura das empresas, principalmente das que perceberam uma clara vantagem estratégica em propor soluções, produtos e serviços num clima em mutação. É evidente que, nos próximos anos, a escassez de água, o aumento significativo da demanda por energia, e a necessidade de servir uma classe de bilhões de novos consumidores, se darão em um ambiente de negócios completamente diferente do que temos hoje. Complexo e imprevisível, mas acima de tudo cheio de oportunidades.

O CEO do Carbon Disclosure Project (CDP), Paul Simpson, afirmou que essa é a primeira revolução industrial que pode ser antecipada. E ela já começou. Segundo ele, a primeira revolução industrial foi marcada por novas tecnologias que substituíram o trabalho humano por máquinas e uma substituição do trabalho agrícola pelo urbano. A segunda foi apenas um aprofundamento da primeira a partir de mais avanço tecnológico como eletricidade, vapor e menores custos de transporte. Há quem diga que a era da internet, exemplificada por Steve Jobs, também tenha sido uma revolução. Mas ela não se compara com a escala de mudanças tecnológicas e culturais necessárias para suportar um planeta com 9 bilhões de habitantes com padrões aceitáveis de qualidade de vida e bem estar.

Um bom exemplo de que as empresas já perceberam isso é o último relatório do CDP, “Global 500 Report 2011 – Acelerando o crescimento de baixo carbono”. Um questionário sobre como as empresas estão lidando num mundo de recursos naturais finitos foi enviado para as 500 maiores empresas do planeta. 404 responderam (81%) e os resultados são surpreendentes. O mais impressionante é que as empresas que ficaram no topo do índice de performance do CDP, apresentaram o dobro de retorno financeiro do que a média das 500 maiores para o período de 2005 a 2011. Outro fato é que o relatório de 2011 foi financiado por um grupo de 551 investidores, inclusive institucionais, que juntos detém uma carteira de investimentos de 71 trilhões de dólares. Sim 71 trilhões de dólares! Isso é mais da metade do todo o portfólio de investimentos existente no mundo.

E quais são os negócios do futuro?

A noção de futuro para uma empresa é em parte relativa. Basta pensar que, para estar numa posição de liderança num setor ou produto específico em 2020, uma empresa tem que realocar seus investimentos financeiro, operacional e pessoal a partir de agora. Eis algumas das oportunidades que a economia de baixo carbono oferecerá a empresas e investidores:

  • Transporte eficiente e de baixa emissão para pessoas e produtos: aviação, marítimo, veículos e transportes públicos;
  • Eficiência energética: muito desses projetos têm retorno em até 3 anos;
  • Energia renovável: eólica, solar, biomassa e etanol. Segundo a agência internacional de energia toda nova infraestrutura energética construída a partir de 2017 deverá ser de fontes renováveis para que esteja dentro da rota segura de emissões recomendada pela ciência;
  • Valoração e gestão de recursos naturais como água e florestas;
  • Gestão, redução e reaproveitamento de resíduos;
  • Mercados de redução de emissões, principalmente o de CO2;
  • Agricultura: produção eficiente de alimentos e uso de áreas degradadas.

Muitos governos que aqui negociam em nome de seus países têm uma visão míope do futuro. São governos com prazo curto de validade. Em geral não mais do que oito anos nos estados democráticos. Muitas vezes, representam os interesses da indústria fóssil, que os financia de forma nada transparente, e não de seus próprios cidadãos como ficou evidente no caso do Canadá nessa Conferência.

Essa lógica impossibilita uma mudança de paradigma necessário para as questões climáticas.

Já as empresas têm ao longo de toda a sua cadeia, dos insumos básicos de produção ao descarte de seus produtos, um relacionamento com bilhões de pessoas todos os dias, e impactam positivamente e negativamente o ambiente. Nunca vou me esquecer de uma breve reunião que tive em Copenhague com o CEO mundial da Unilever, que citou dois fatos impressionantes: todos os dias 2 bilhões de pessoas no mundo compram algum produto da sua empresa, e 100% dos lares brasileiros têm pelo menos 1 produto da empresa em uso.

Empresas bem sucedidas têm inovação em sua natureza. Acima de tudo são reconhecidas, através do lucro, quando suprem as necessidades e os desejos da sociedade. Se os governos, por meio de políticas e incentivos adequados, possibilitarem um ambiente apropriado às empresas, elas trarão soluções e tecnologias suficientes para nos tirar dessa rota de colisão com um planeta finito em recursos naturais. Mas uma coisa está clara, as empresas já não mais esperam pelos governos!